“Não podemos ser tratados como coadjuvantes e sim
como atores principais, pelos empreendedores, pelo
governo e pelos bancos”, afirma representante de
pequenos lojistas
Queda de movimento nos shoppings é visível desde o último sábado em SP, e se
intensificou nesta terça (17)
São Paulo – Os efeitos da epidemia de coronavírus no Brasil já chegaram ao
comércio. Algumas entidades ligadas ao setor já dispõem de dados, enquanto
outras afirmam estar realizando levantamentos. Com um número menor de
consumidores circulando em ambientes públicos, principalmente fechados,
como shopping centers, as consultas para vendas a prazo e a vista nas lojas
apresentaram queda de 16,3% “só no último fim de semana, comparado ao fim
de semana anterior”, de acordo com a Associação Comercial de São Paulo
(ACSP).
No entanto, o presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites
(Ablos), Tito Bessa Junior, afirma que os pequenos lojistas que a entidade
representa (de lojas com até 180 metros quadrados) estão sendo sufocados
pela situação de crise e não contam com o apoio da Associação Brasileira de
Shoppings Centers (Abrasce) e Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings
(Alshop).
São 577 os shoppings em todo o Brasil, que recebem 502 milhões de
visitantes/ano, com faturamento de R$ 192 bilhões. Neles, 87% são lojas
satélites. O segmento varejista de shoppings emprega diretamente 1,102
milhão de pessoas.
“Nosso receio nessa crise é termos que fechar as portas pela falta de união do
segmento. Não podemos ser tratados como coadjuvantes e sim como atores
principais, seja pelos empreendedores, pelo governo e pelos bancos”, diz Tito
Bessa. De acordo com estimativas da Ablos, no fim de semana a queda no
movimento foi de 50% a 60%.
Segundo ele, a título de taxa de ocupação, incluindo aluguel e condomínio, os
grandes magazines e lojas de grande porte pagam 4% sobre o faturamento,
enquanto os pequenos lojistas desembolsam 20%. Nesse contexto, o dirigente
da Ablos acredita que “seria muito importante que os consumidores
prestigiassem as lojas menores, para nossa sobrevivência”. Os grandes lojistas
e “lojas-âncora”, na opinião de Tito Bessa, têm fôlego para aguentar a crise por
dois ou três meses, o que seria impossível para os pequenos.
Por meio de nota, a Abrasce afirma que, “atenta à evolução do tema”, está
recomendando aos associados com empreendimentos em áreas com casos
confirmados, que, a partir desta quarta-feira (18), funcionem em horário
reduzido, das 12h às 20h, “observando-se as regras contratuais aplicáveis”.
“Solicitamos que os shoppings localizados em áreas que não tiveram nenhum
caso confirmado monitorem a evolução do assunto e compartilhem as
informações”, afirma a entidade.
Também por meio de nota, a Alshop informa que, após a Organização Mundial
da Saúde (OMS) ter declarado que o coronavírus é uma pandemia, ela se
reuniu com a Abrasce “para estudar formas de reduzir o impacto negativo
sobre o varejo e sobre a economia como um todo”.
O presidente da Ablos protesta. Para ele, os grandes empreendimentos “estão
mais preocupados com seu bolso do que com a saúde (física e financeira) dos
lojistas e funcionários”. “A hora é de ajuda e respeito. Temos nossos
funcionários e nossas famílias a zelar”, acrescenta.
Alshop e Abrasce irão se reunir nos próximos dias com representantes do
governo federal, para “discutir a flexibilização na cobrança de impostos sobre
comércio e serviços”, informa a Alshop.
Segundo a Associação Comercial de São Paulo, que representa o comércio
varejista no maior estado da Federação, a queda (de 16,3%) nas vendas reflete
um “ambiente de incerteza”, cenário em que “não há como fazer projeções: o
ideal é evitar o pânico“.
Transporte de cargas
Em nota, o presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e
Logística (NTC&Logística), Francisco Pelucio, afirmou que, com o cenário, “o
transporte de cargas se torna ainda mais importante para o abastecimento das
cadeias de suprimento”.
“Não podemos permitir que aconteça o desabastecimento, principalmente de
alimentos e medicamentos”, acrescentou, aos seus representados. O dirigente
faz um alerta sobre “fake news”. “Infelizmente, nestas circunstâncias a
circulação aumenta. É importante lembrar que informações corretas evitam
pânico. Sendo assim, solicitamos que divulguem apenas notícias de fontes
confiáveis.”