País vizinho consome 47,08% do total exportado pelo mercado automobilístico.
A crise econômica na Argentina desafia a produção de veículos das montadoras do Grande ABC. Principal parceiro comercial da região e da indústria automobilística, o país vizinho passa por intensa turbulência e enfrenta desvalorização da moeda local frente ao dólar, o que impacta diretamente as exportações.
Para se ter ideia da importância do papel dos hermanos na balança comercial regional, eles consumiram 47,08% (US$ 1,05 bilhão) do total exportado pelo setor automotivo entre janeiro e agosto deste ano, que soma US$ 2,23 bilhões. O montante, porém, está 10% abaixo que o volume movimentado no mesmo período de 2017, quando chegava a US$ 1,17 bilhão.
Os dados das sete cidades, disponibilizados pelo MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços), foram tabulados pelo Diário.
E as montadoras já sentem esses efeitos na produção. O vice-presidente de estratégia, comunicação e relações governamentais da Ford para a América do Sul, Rogelio Golfarb, destacou que a situação na planta de São Bernardo “não é preocupante, mas é problemática. É desafiadora, mas não é a primeira vez que passamos por isso. O cenário impacta porque nós exportamos o (New) Fiesta, que também perdeu espaço no mercado interno durante a crise por ser um produto mais sofisticado, e também os caminhões”, afirmou.
Segundo Golfarb, a montadora norte-americana procura alternativas para resolver o impasse, mas ele não deu maiores detalhes. “Buscamos a melhor maneira para o desenvolvimento de produtos com maior eficiência da fábrica.”
A Scania sentiu queda de 11% nas vendas ao mercado argentino entre janeiro e agosto deste ano, em relação a 2017. “No entanto, a expectativa é que as exportações para a Argentina se mantenham nos mesmos níveis do ano passado, com cerca de 2.000 unidades vendidas ao país. E quando falamos em exportação no geral, temos crescimento de outros países importantes na América Latina, como o Chile, com 14%, e o Peru, com 36%, além de outros importantes mercados fora do continente, como Rússia e África do Sul. O que contribui para compensar essa queda”, assinalou o diretor de relações institucionais e governamentais da Scania, Gustavo Bonini.
A montadora sueca vende hoje a outros países 70% de tudo o que é produzido na planta são-bernardense, que é uma plataforma global de exportação, e recentemente acionou o segundo turno, a fim de reforçar o comércio exterior.
A Volkswagen fez reajustes na produção há três meses, mas conseguiu controlar a situação, com o redirecionamento de peças que iriam para o mercado argentino a outros países como Colômbia, México e Chile. Além disso, a montadora alemã registrou crescimento de 10% no Brasil de janeiro a agosto deste ano, em relação ao mesmo período de 2017, graças ao lançamento de 11 modelos, sendo o último o novo Jetta.
Conforme o presidente e CEO da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si, o crescimento chegaria a 15% não fosse a situação argentina. Em relação à fábrica de São Bernardo, ela se mantém operando na capacidade máxima (1.100 automóveis por dia). “Não temos mais espaço para produzir carros. Com essa nova ofensiva de produtos, felizmente vamos ter de reavaliar nossa capacidade produtiva. Ainda estamos estudando como vai ficar São Bernardo, mas esse é um problema bom, ao contrário de quatro a cinco anos atrás. Temos a plataforma MQB, por meio da qual é mais fácil fazer veículos na mesma plataforma, é só questão de tempo.”
A Toyota afirmou que continua operando normalmente e enviando peças aos mercados argentino e norte-americano. Para a Argentina, especificamente, a montadora vende peças para a Hilux nas áreas de funilaria e usinagem. “Inclusive, com o recente lançamento da Hilux 2019, produzida em Zárate (Argentina), devemos manter ainda, com bom equilíbrio, a relação de importação e exportação com aquele país. Quando iniciarmos o terceiro turno nas fábricas de Sorocaba e Porto Feliz, a partir de novembro, a perspectiva é que tenhamos, inclusive, algum crescimento”, disse a montadora japonesa, que na região só produz peças.
Fonte: DGABC