Mesmo após uma vida inteira de trabalho, a velhice não é garantia de descanso. No Grande ABC, 60% dos aposentados pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) – ou seja, aproximadamente 234 mil dos 335 mil beneficiários – continuam em atividade, de acordo com estimativas da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC. Hoje é Dia dos Avós e muitos deles ainda precisam trabalhar fora para complementar a renda, já que somente o benefício não é suficiente para o pagamento das contas.
Apesar do número expressivo, em 2017 eram 70% dos aposentados que seguiam na ativa nas sete cidades, o que na época representava 220 mil pessoas. Segundo o diretor de políticas públicas da associação, Luís Antônio Ferreira Rodrigues, o desemprego também acabou afetando esses trabalhadores que, na sua maioria, estão na terceira idade. “Os salários estão ficando piores, o emprego perdeu qualidade e empresas na região fecharam ou se mudaram. Além de que, o aposentado costuma ser o primeiro a perder o seu emprego em uma crise.”
De acordo com Rodrigues, o cenário veio acompanhado do crescimento da informalidade, uma vez que é preciso incrementar o sustento. “Há três anos, do total de aposentados que continuavam a trabalhar, 70% estavam no mercado formal de trabalho e, o restante, no informal. Atualmente, devido à crise, que gerou alto número de demissões, hoje 60% estão no mercado informal. Os idosos não conseguem voltar à formalidade e acabamos na contramão, com empregos de baixa remuneração, como, por exemplo, vendedores de pipoca.”
É o caso do aposentado Antônio Vaz de Lima, 70 anos, morador da Vila Curuçá, em Santo André, que recebe o benefício por idade há quatro anos. Ele já chegou a atuar como mecânico em uma montadora por cinco anos, mas, na maior parte da vida, recolheu o INSS como autônomo. Mesmo atuando desde 1969 na confecção de redes para pesca, ele ainda não conseguiu descansar e mantém rotina diária trabalhando das 7h às 18h em casa.
“Se eu paro de trabalhar, eu morro de fome. O dinheiro que eu ganho com a aposentadoria é um salário mínimo (R$ 954), não dá para pagar todas as contas. Temos casa própria e não pagamos convênio, nosso plano de saúde é o SUS (Sistema Único de Saúde) porque é muito caro se for pagar para nós dois (ele e a mulher, a dona de casa Francisca Matos de Lima, 70)”, desabafou.
O trabalho de Lima rende ao casal, em média, um salário mínimo a mais, porém não é garantido o mesmo valor todos os meses, já que ele produz sob demanda. O aposentado faz trabalho manual de acabamento e finalização de redes de pesca, utilizando materiais como o chumbo e boias aquáticas. A quantidade depende dos pedidos dos clientes às lojas, que encaminham os materiais. “Dependendo do mês, eu fico até 15 dias parado porque não tem trabalho. Na época de frio é pior, porque o trabalho cai muito”, lamentou o avô de duas netas, Lavínia, 5, e Melissa, 1, que gostaria de passar mais tempo com as meninas. “Se eu pudesse escolher, ficaria muito mais tempo com elas”, afirmou.
A aposentada Terezinha das Graças Santos, 64, aposentada há dois anos, passa pela mesma situação. Moradora do Jardim São Roberto, em São Paulo, ela continua trabalhando em Santo André como corretora de planos de saúde. “Tenho quatro filhos e seis netos que moram no mesmo quintal. Como uma das minhas filhas está desempregada, eu a ajudo muito. Pensei que iria descansar e aproveitar para viajar na aposentadoria, mas com este valor não teve como”, disse ela, que juntando benefício e salário soma dois salários mínimos (R$ 1.908).
Fonte: DGABC