O PIB (Produto Interno Bruto) industrial do Grande ABC caiu 38,1% entre 2008 e 2015. O legado da crise econômica na região resultou na perda de R$ 16,1 bilhões na geração de riquezas das fábricas neste período. Há dez anos, a produção do setor havia atingido R$ 42 bilhões e, em 2015, ápice da turbulência, quando o País e a região atravessavam recessão, o montante despencou para R$ 25,9 bilhões.
Os dados foram levantados pelo Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), com exclusividade para o Diário. Ao longo de 14 anos, entre 2002 e 2015, o pior desempenho das indústrias foi observado no último ano analisado. Vale destacar que os valores apresentados foram deflacionados pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 2015, o que permite melhor comparação dos números.
O golpe no Grande ABC foi intenso pelo fato de a indústria automobilística, uma das mais afetadas pela crise, responder por 40% do PIB industrial, de acordo com o economista e professor da Escola de Negócios da USCS Jefferson José da Conceição, responsável pelo levantamento das informações. “Trata-se de um setor que pauta a região, ou seja, o que acontecer com ele no Brasil reflete diretamente nas sete cidades”, afirma. “O crescimento econômico veio muito forte até 2011, também impulsionado pela ótima fase da produção automobilística, mas depois a crise começou a nos atingir.”
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou, no fim de 2008, a redução da alíquota do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) que, em alguns casos, chegava a zero, por exemplo, a carros 1.0. A medida visou ‘blindar’ o País da crise econômica mundial, que tinha acabado de eclodir, e estimular a economia, para que continuasse a crescer. O incentivo foi mantido pela gestão de Dilma Rousseff (PT) até 2014. Em 2015, os percentuais voltaram ao normal. Ao mesmo tempo, a turbulência se espalhou, o desemprego aumentou, assim como o endividamento e a população colocou o pé no freio do consumo. Foi quando a demanda das indústrias, não só automotivas, caiu fortemente. A partir de então, algumas fecharam as portas e, outras, transferiram unidades a localidades em que concentravam a produção.
Segundo o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Diadema, Anuar Dequech, além da questão da desindustrialização, as condições de operação das fábricas também pioraram no período. “Tudo isso foi agravado com uma crise econômica enorme nesses últimos três anos. Além da queda de pedidos das empresas que dependiam principalmente do setor automotivo, aumentou a carga tributária e houve uma dificuldade além do normal.”
Não à toa, as cidades que mais sofreram perdas com o PIB industrial foram São Bernardo – que concentra cinco montadoras – e São Caetano – com uma. No primeiro município, a geração de riquezas do setor despencou 50,1%, passando de R$ 19 bilhões em 2008 para 9,4 bilhões em 2015. No segundo, o tombo foi ainda maior em sete anos, de 61,8%, passando de R$ 7,3 bilhões para R$ 2,8 bilhões.
“Ainda hoje temos enorme capacidade ociosa de produção. Mas o problema não é só a questão do fechamento de indústrias, mas também a diminuição da participação delas no mercado. Todas as sete cidades tiveram queda acentuadas, mas São Bernardo ficou mais evidente por conta das montadoras”, diz Mauro Miaguti, vice-diretor do Ciesp de São Bernardo. Mesmo com a redução, o município ainda concentra a maior parte do PIB industrial regional – que em 2010 teve seu ápice, com 47,1% e, em 2015, recuou a 36,5%. (Colaborou Soraia Abreu Pedrozo)
Políticas públicas e capacitação de mão de obra são fundamentais
Duas questões são essenciais para que a região volte a apresentar crescimento no setor industrial: políticas públicas e capacitação de mão de obra. Números recentes mostram que alguns setores, incluindo o automotivo, voltaram a reagir, mas ainda estão longe de atingir índices de crescimento alcançados em 2010.
Jefferson José da Conceição, da USCS, pontuou que o Rota 2030, programa de incentivo fiscal do governo federal para a indústria automotiva, que deveria ter saído desde fevereiro mas segue sem definição, é importante para a retomada. “Além da iniciativa, a região deve se sentar à mesa reunindo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Agência de Desenvolvimento do Grande ABC, prefeituras, sindicatos e até mesmo o governo do Estado, para elaborar política industrial regional. Há itens fundamentais, como o aumento das exportações, o desenvolvimento tecnológico e a qualificação profissional. Sugerimos política que trabalhe a tríplice hélice, onde temos setor produtivo, as associações e universidades ou escolas técnicas trabalhando dinamicamente em processos de interesse para a indústria regional”, afirma.
Conforme o coordenador do MBA em Gestão Estratégica de Empresas da Cadeia Automotiva da FGV (Fundação Getulio Vargas), Antônio Jorge Martins, capacitação e políticas públicas são chave para que a região não se torne local de cidades-dormitório. “A base das indústrias automobilísticas já está instalada, então a tendência é que elas sejam fortalecidas. Se houver foco no desenvolvimento de mão de obra de qualidade, adaptá-la para a indústria 4.0, a fim de manter a reputação e a geração de emprego, e trouxerem startups, não somente o PIB, mas a própria atratividade para outras empresas deve aumentar.”
Questionado, o Consórcio afirmou que discute o processo de elaboração do polo tecnológico do Grande ABC. “Como parte desta iniciativa, a Fundação Certi foi contratada para apoiar no desenvolvimento científico e tecnológico da região por meio de um projeto, cujo objetivo refere-se à prestação de serviço de consultoria técnica para o planejamento e modelagem do parque tecnológico de Santo André como instrumento para estruturação do polo regional.” A entidade também destacou que está discutindo políticas de fomento à inovação.
Fonte: DI[ario do Grande ABC