A balança comercial do Grande ABC encerrou o quadrimestre com saldo positivo em US$ 347,58 milhões, ou seja, as exportações superaram as importações. No entanto, a quantia é 24%, ou US$ 109,72 milhões, menor do que o resultado dos quatro primeiros meses do ano passado, quando o montante havia atingido US$ 457,3 milhões. Segundo especialistas, os dados demonstram o reaquecimento da economia regional.
De janeiro a abril, as vendas para outros países totalizaram US$ 1,93 bilhão, ante US$ 1,55 bilhão em 2017 – acréscimo de 24,5%. Já as compras somaram US$ 1,58 bilhão, US$ 490 milhões ou 44,9% a mais do que no ano passado. Os dados são do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e foram levantados pelo Diário.
Sandro Maskio, economista da Universidade Metodista de São Paulo, observa que a redução do saldo comercial sinaliza para o aquecimento da economia regional e a retomada da atividade industrial. “A estrutura produtiva da região depende de insumos importados, assim, o aumento das compras de outros países em maior proporção do que o das vendas externas indicam que o mercado interno está voltando a consumir”.
Entre janeiro e abril, para se ter ideia, um dos segmentos com maior saldo de empregados nas sete cidades foi a indústria, indicando aumento da demanda nas fábricas. Ao todo, foram criados 6.011 postos no período, sendo o melhor resultado para o quadrimestre desde 2013, conforme dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE (Ministério do Trabalho).
A indústria automobilística é o carro-chefe, respondendo por 50% do fluxo comercial da região, ressalta Jefferson José da Conceição, economista e professor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). O ramo, inclusive, tem registrado melhora: segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), até abril foram produzidos 965,86 mil veículos no País, 20,7% mais do que em 2017.
Por outro lado, AnuarDequech Júnior, diretor tirular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema, alerta que a ociosidade nas indústrias ainda está muito grande (36%) e, por isso, as empresas ainda não podem abrir mão das exportações, responsáveis por segurar a economia local durante a crise. Em São Bernardo, por exemplo, a Mercedes-Benz enviou 25 caminhões coletores de lixo ao Líbano em janeiro e, em março, 50 ônibus à Colômbia. E, a Scania, envia a outros países 70% da produção na cidade; em 2015, eram 58%.
Não à toa, por contar com cinco montadoras, São Bernardo é responsável pelo melhor desempenho no Grande ABC, tendo exportado US$ 1,54 bilhão, com superavit de US$ 556,26 milhões no período – veja na arte.
DÓLAR x ARGENTINA
Com a valorização do dólar – negociado a R$ 3,74 na sexta-feira, maior valor em dois anos –, porém, enviar produtos ao Exterior torna-se mais vantajoso do que o mercado interno. “Caso o viés de alta se mantenha nos próximos meses, a tendência é que as exportações aumentem”, afirma Conceição. “Mas, como os contratos requerem tempo, os impactos devem chegar daqui a mais de um ano”, completa Dequech Júnior.
Entretanto, a crise que atinge a Argentina, principal parceiro comercial do Grande ABC, representando 38,2% das negociações, pode prejudicar o incremento nas vendas. “Mesmo com o dólar favorável, não teremos quem compre nosso produto com o mercado argentino desaquecido. A demanda dos outros parceiros não é suficiente para manter o ritmo de exportações”, assegura Maskio.
Além disso, Conceição aponta que, na visão do mercado externo, países como Brasil, Argentina e México são co-dependentes, assim, “se um está em crise, todos podem estar, afastando a entrada de capital internacional”. As consequências para a região, na avaliação de Maskio, podem começar a chegar no segundo semestre, caso o cenário econômico dos hermanos não melhore. “Com a queda das exportações das indústrias, o ritmo de retomada de produção pode, inclusive, desacelerar”, completa.
Quase 80% do exportado é de média tecnologia
Das exportações do Grande ABC em 2017, 77,1% são produtos de média tecnologia, ou seja, itens com baixa diferenciação que requerem níveis moderados de pesquisa e desenvolvimento, mão de obra especializada, processos de produção estáveis e de massa. Neste quesito, estão inclusos veículos, motocicletas, produtos químicos, de plástico e motores em geral, por exemplo.
Os dados são da Segunda Carta de Conjuntura do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano).
Fonte: DGABC